segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

Antologia " UAI, SÔ! Minas Gerais, em contos e poemas" _ editora Provérbio.

Uma noite linda, lançamento da Antologia " UAI, SÔ! Minas Gerais, em contos e poemas" _ editora Provérbio.
.Obrigada Fernando Raine, pela oportunidade em participar dessa Antologia. Em Cafeteria Lúdico Sabor.    Crônica :

Conheça um pouco de Carrancas

 

Neuza Marsicano

 

       Gosto   muito de registrar as imagens   e observações   pessoais das minhas viagens. Há poucas semanas saí de Juiz de Fora rumo a Carrancas. Venho compartilhar com meus queridos leitores um pequeno painel do que foi esse capítulo turístico na minha vida. Espero que gostem.

            Um pouco da História 

            Em 1720, o Capitão João Toledo Piza e Castelhano, pai de 11 filhos, seu irmão, Padre Lourenço de Toledo Taques, Salvador Correia Bocarro, Miguel Pires Barreto e José da Costa Morais tinham, provavelmente, iniciado um povoamento. Ao decidirem que ali ficariam por causa das excelentes perspectivas em relação à mineração do ouro e da mostra da fertilidade da terra, mandaram buscar em São Paulo as famílias e os escravos que possuíam.

            Já denominação Carrancas deve-se às escavações que os garimpeiros fizeram em uma serra localizada no município, e que formaram para quem vê de longe as fisionomias exatas de suas caras. Chamou atenção na entrada de um restaurante a escultura de uma Carranca esculpida em madeira por um artista local. Em outro restaurante um banner com a história de Carrancas.  

            A viagem

          Organizado pela agente de   turismo Sônia Belém, eu, a amiga Márcia e mais 14 pessoas fomos à cidade de Carrancas, que fica no sul de Minas Gerais, a 232 KM de Juiz de Fora, sendo que ficamos todos hospedados na Pousada Roda Viva, a mesma Pousada que ficam hospedados atores que visitam ou filmam na cidade. Destaque   para o acolhimento na Pousada.

            Porque conhecer Carrancas

            Primeiramente, por ser uma cidade famosa pelas cachoeiras, trilhas e   lindas serras que a cercam. Atualmente, o município vem se desenvolvendo no ecoturismo, como alternativa econômica, uma vez que belos atrativos naturais não faltam. Por isso, Carrancas é conhecida como terra das cachoeiras. E não há nenhum exagero em dizer que o local é um paraíso ecológico. Fazendas centenárias, cachoeiras globais e um povo simpático trazem belas cores e formas para o local.

            Os passeios

            No primeiro dia, dedicamos a conhecer a área   urbana da cidade, seu artesanato e a Igreja Nossa Senhora da Conceição. A igreja do século XVII é um patrimônio histórico-cultural da cidade, sendo construída com blocos de quartzito, com pinturas do teto e com esculturas nos altares. Belíssima! A pintura do teto do altar-mor é atribuída a Joaquim José da Natividade, discípulo de Aleijadinho (um dos mestres da arte barroca mineira). Chamou atenção o toque do sino a cada quinze minutos da bela Igreja de Nossa senhora da Conceição, que fica no coração da cidade, lembra a religiosidade do local. 

            Para conhecermos os atrativos mais procurados, fomos de micro-ônibus com guia a locais como: as cachoeiras Complexo da Zilda, Complexo da Ponte, Complexo da Fumaça, Complexo da Vargem Grande, Complexo da Toca e o esplendoroso complexo da Esmeralda (de fato, com águas cor de esmeralda).

            Vida   noturna

            Em Carrancas, o que não faltam são os bares, restaurantes, pizzarias. Escolhemos o Recanto Bar, por se próximo à Pousada. O cardápio do Recanto Bar oferece petiscos, refeições e pizzas, além das bebidas. A especialidade da casa é a Pururuca de Queijo, prato premiado em diversos festivais na região que é uma delícia. Estava bom demais curtir aquela música ao vivo em um ambiente descontraído.

            Finalizando a viagem, fica a mensagem: não há cara feia que resista aos encantos de Carrancas, no sul de Minas Gerais. De tão fascinante, a natureza desta tranquila cidadezinha já serviu como locação de novelas e minisséries.

Referência

https://biblioteca.ibge.gov.br

https://idasbrasil.com.br/Carrancas/Historia/viagem/fatos-historicos

http://marsicanoeducacao.blogspot.com/


 

segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

Crônica Igualdade e Felicidade


                               Igualdade e Felicidade

 “O sonho da igualdade só cresce no terreno do respeito pelas diferenças.”

(Augusto Cury)

            Tantas crenças limitantes nos distanciaram do amor. Visões limitadas nos impediram de promover partilhas com muitas pessoas. É bom lembrar que não nascemos diferenciando as pessoas: crianças são puras e interagem umas por conexões de ideias e ações, por descobertas, movidas pela curiosidade dos aprendizados. Porém, passamos por um processo de socialização, de educação e de vida familiar que nos mostra as igualdades e diferenças entre nós; dessa forma, o questionamento que cabe é: por que diferenças nos separaram por tanto tempo ao longo da história?

            Seria mais fácil termos apenas uma bússola do coração e da mente, chamada “amor”. Ele sim, é ponte entre todos os mundos. Ele tem a função libertadora de sairmos dos nossos mundinhos e enxergar o outro da maneira como precisa ser acolhido. Nesse contexto, o amor é uma arma poderosa de combate do preconceito. E tudo começa com escuta, depois, com a empatia, e tudo isso com respeito às individualidades, às visões de mundo e o direito de cada um ser como é, e não como gostaríamos que fosse.

            Dando enfoque às questões étnicas, cada cultura e fenotipagem de cada grupo de pessoas, dentro de sua origem constituem a beleza do mundo em sua diversidade de cores de pele, texturas e feições, adereços e modos. Lembrando que as tradições culturais e simbolismos dos cabelos, adornos, indumentárias, falares e gestuais, tradições, conduzem ao contexto maior do valor de cada povo e de sua autenticidade.

            Parece tão claro que não se trata de alguém ser o melhor, mas de ser diferente. Porém, houve construções nocivas de preconceitos, repassadas de geração em geração, pela história de opressão e escravidão dos povos, submissão por guerras e também problemas de convivência pacífica no âmbito das movimentações migratórias ao redor do mundo.

            Sendo assim, devemos questionar se o que achamos é fruto autêntico de uma observação crítica ou uma crença limitante que nos impuseram ao longo do nosso convívio em sociedade.

            Vemos com o advento das redes sociais uma crescente onda de ódio que promovem fissuras na união entre os povos e até mesmo dentro de uma sociedade. Infelizmente, muito racismo, xenofobia, homofobia, capacitismo, dentre outros.

            Por outro lado, pode-se levar soluções para esses abusos e ilegalidades a partir do momento em que a internet também pode ajudar a promover justiça, através de denúncias, e ajustes ao promover reflexões tão necessárias a um mundo mais acolhedor.

            É bom reconhecer a base de amor não como o desgaste da realidade, como quando idealizamos algo de acordo com as nossas vontades, mas como um caminho palpável para mudanças realistas e que nos demandam reflexão para a mudança de paradigmas em prol de colocar abaixo os muros que nos separam. Um primeiro passo é tão simples e conhecido: não fazer a terceiros aquilo que não gostaríamos que fizessem conosco.

            Claro que é uma premissa inegável e em um nível mais subjetivo. Contudo, em termos de coletividade e efetividade ao longo do tempo, ações coordenadas de políticas de Estado e de Governo, bases educacionais que tragam reflexões sociológicas e históricas têm sido fundamentais para uma melhor convivência entre os povos.

 A humanidade não tem noção de seu poder quando se une para a promoção do bem, não de maneira contundente e constante, combativa. O que vemos são núcleos de pessoas que carregam causas nobres em seu coração: são legisladores, juristas, coletivos, institutos, organizações da sociedade civil, pessoas públicas, influenciando nas redes e nos canais de televisão, escritores, roteiristas e uma imensidão de pesquisadores e professores voltados aos estudos humanistas. Mas poderíamos ter mais pessoas lutando contra toda forma de preconceito nos espaços escolares, familiares, no mercado de trabalho e na vida social.

As lutas que unem deveriam ser ensinadas a todo momento para novas gerações mais conscientes. Acontece, mas não é uma regra, pois, com as redes sociais, o culto do individualismo ganhou proporções geométricas e o desejo de fama e de influência é avassalador. Pessoas mimetizam gestos, danças e posicionamentos que não representam exatamente o que são e o que gostam. Então como fica a questão da aceitação do próximo se muitos não aceitam sequer a si mesmos, reproduzindo o comportamento de outros que são referências, mas exatamente referência de quê? Não há terreno fértil para reconhecer as diferenças quando um só modelo de ser e aparentar é o ideal. Padrões cruéis aprofundam preconceitos e são verdadeiras torturas psicológicas para os mais novos, principalmente.

O amor não deve ser um mito, pois, de acordo com Platão, ele é um aprendizado. Acredito que aprender a amar ao próximo como a si mesmo, o que é também parte do primeiro mandamento cristão, que inclui, primeiramente, amar a Deus sobre todas as coisas, é algo amplo e pontual. Não vemos expressão de preconceito na base da fé coerente das correntes que postulam o amor como nossa solução para essa existência terrena.

Portanto, que possamos ter discernimento para, através do amor universal e na busca de harmonia entre as pessoas, construir, enfim, um mundo mais humano, solidário e justo para todos, mas que também tenhamos iniciativas para equalizarmos as diferenças e fazer reparações a todas as pessoas que perdem a oportunidade de uma vida mais plena por serem vítimas de preconceito.

 


domingo, 12 de novembro de 2023

Coletânia Juiz de Fora ao Luar no acervo da Cafeteria Pipita.

                  

Minha crônica :

Una mujer sola contra el mundo: Um pouco sobre Flora Tristán

Neuza Oliveira Marsicano

"Flora Tristán é uma personalidade excepcional do século 19, não só porque é mulher, mas também porque é uma mulher que resume todas as dificuldades ligadas ao destino das mulheres na primeira metade desse século e depois disso"

(Brigitte Krülic, Professora da Universidade de Paris-Nanterr)

Considerações Iniciais

Há uma tendência contemporânea do resgate da memória de Flora Tristán, que deixou um legado imenso de ativismo social e bases reflexivas filosóficas para um mundo mais fraterno: não apenas obras, como por exemplo, o romance escrito pelo Prêmio Nobel de Literatura Mario Vargas Llosa: O Paraíso na Outra Esquina; "Flora Tristán, Una Filósofa Social" de Conxa Llinas Carmona; a obra de Brigitte Krülic sobre Flora; como também em artigos na França e no Peru, além da tendência atual de seu nome estar em ruas, organizações e escolas de ajuda feminina mundo afora.

Quem foi Flora?

Após um período de pesquisas, leituras e reflexões, parecem inesgotáveis os debates sobre a autora, que, antes de tudo, um ser que carregou a bandeira da esperança. Nascida na França, em 7 de abril de 1803, seu pai era militar aristocrata peruano e sua mãe nascida na França, refugiada em Bilbao na época da Revolução Francesa.

Flora cresceu em um lar em Paris frequentado por personalidades influentes e intelectuais. Mas, como nem tudo são flores, apesar de seus pais terem se casado diante de um padre na Espanha, o procedimento não foi considerado válido para as autoridades e leis francesas, uma vez em que não haviam se casado no civil.

Sendo assim, ela não foi reconhecida como herdeira legal de seu pai, embora seu irmão fosse vice-rei do Peru. Daí uma sentença que poderia ser: uma mulher bastarda, depois, órfã, pobre...como teria educação? Mas o que superaria tudo era sua força interior: Flora era autodidata.

Casou-se aos 17 anos com seu patrão, um homem violento com o qual viveu durante 4 anos, e a deixou com dois filhos para criar e um no ventre. Essa adversidade, naquele período, fez com que fosse vista por sua mãe como uma prostituta, por ser uma mulher, e, sem rede de apoio familiar, precisou trabalhar muito para criar seus filhos. A caçula, Alina, veio a ser a mãe do artista francês Paul Gaugin.

A obra de Flora Tristán

Após vários trabalhos, Flora conseguiu um emprego com uma família inglesa com quem viajou pela Europa, visitando o Reino Unido pela primeira vez. Ao voltar para a França em 1839, logo em seguida, publica "Passeios em Londres", uma obra em que denunciou as desigualdades que presenciara, denunciando os aristocratas e o sistema capitalista por essa injustiça. Esse trabalho foi pedra fundamental do incipiente movimento socialista, porém, a sua bibliografia talvez não ficasse tão conhecida se não fosse uma viagem feita em 1833 ao Peru, cujo resultado mais relevante foi sua obra emblemática: “Peregrinações de Uma Pária”, de 1838. O motivo da viagem, de acordo com a própria Flora era: "ir para o Peru e refugiar-me no seio da minha família paterna, esperando encontrar lá uma posição que me fizesse voltar a entrar na sociedade".

Com seu espírito livre, Flora atravessou o oceano sozinha, acompanhada por 18 homens, ainda que fosse incomum e perigoso uma mulher viajar desacompanhada naquela época, sendo recebida na casa majestosa da família e desfrutando de muito conforto nos 8 meses em que esteve no Peru. Apesar disso, seu tio deixou claro que ainda a considerava uma bastarda e que ela não teria direito a nenhum bem da família.

É interessante notar que ela havia partido da França como uma lutadora e rebelde que sonhava em recuperar seu lugar perdido na aristocracia, porém, retornou ao país em 1834 já como uma revolucionária determinada a conquistar com a força das palavras um lugar justo para todos.

A visão de Flora sobre mulheres independentes era ambiciosa, e isso ficou claro já em seu primeiro livro, "Da Necessidade de Acolher Mulheres Estrangeiras", de 1835, que, de acordo com Krülic, nele, "ela imagina maneiras de ajudar as mulheres a viajar".

Deve-se salientar que Flora lutou por 14 anos pelo seu divórcio, e esse desafio inspirou a publicação de "Petição para a Reintegração do Divórcio", onde ela detalha a

luta por essa causa que encarou na vida pessoal, bem como pela abolição da pena de morte.

Entretanto, "Peregrinações de uma Pária" foi o texto que lhe abriu as portas em Paris. Porém, em Arequipa, a obra foi rechaçada com queima pública do livro, pois suas descrições do Peru em meados do século 19 ofenderam seus anfitriões no país. Anos depois, a obra foi reavaliada pelos historiadores peruanos e, nas primeiras décadas do século 20, foi acolhida como literatura peruana.

Enquanto ficava famosa, seu ex-marido, Chazal perseguiu-a nas ruas e a espancou. Além de ter tentado tomar a custódia dos filhos na Justiça. Alina precisou ficar escondida após ser vítima de um sequestro pelo próprio pai. Após Chazal ferir Flora gravemente com um tiro, é que ele foi preso. Enfim Flora e Alina estavam livres.

Alguns anos depois, Flora abordaria a questão do consentimento amoroso e da liberdade de movimento das mulheres no espaço público, algo arrojado para a época, assim como todas as suas ideias feministas e revolucionárias.

É de suma importância destacar que a escrita de Flora era concisa e concreta por uma razão prática: pelo fato de os trabalhadores terem uma jornada de trabalho muito longa, muitos não sabiam ler e precisavam ser abordados em uma linguagem simples que os incitasse à ação. Essa forma de pensar a estrutura textual foi inovadora para a época, e a diferenciou dos socialistas de sua época, incluindo Karl Marx, que se inspirou nela, mas nunca a citou.

A última viagem

Ela se autodeclarou "apóstola do Sindicato dos Trabalhadores", viajou pela França em 1844 com suas ideias libertárias e foi perseguida pela polícia da época. Esse fervor foi imensamente apreciado. Seis meses depois, morreu, em Bordeaux, incapaz de terminar seu tour pela França.

Seu túmulo resume muito bem o Zeitgeist de Flora Tristán, tão avançado e disruptivo: as pessoas por quem havia lutado gravaram: "Em memória da senhora Flora Tristán, autora de 'A União Trabalhadora', os trabalhadores gratos. Liberdade, Igualdade, Fraternidade, Solidariedade".

Como Flora Tristán via a América Latina?

Falar de Flora é entender a fusão de uma vida pessoal de uma mulher em uma época de extrema opressão feminina, adicionando sua condição de excluída: pela família, pelas condições financeiras e pela sociedade patriarcal. Apesar de um panorama desfavorável, ela resistiu e trouxe ideias inovadoras com seu olhar atendo e à frente de seu tempo, sempre driblando as adversidades em uma trajetória em que rumava a outros países por diversos motivos, mas sempre com algum fruto de ideias a serem disseminadas através de seus livros.

Em sua viagem da França, país em que morava, até a América Latina, onde sua família paterna vivia, não se sabendo claramente se tratar de uma busca de uma condição financeira menos atribulada ou se era uma busca de legitimidade mediante sua condição de bastarda, pois, o casamento de seus pais não foi reconhecido civilmente.

Fato é que, ao viajar, empunhava um diário, já se revelando escritora e anotando suas impressões sobre a América Latina. Esse recordatório de vida de Flora trouxe muitas revelações, segundo Amarante (2010), sobre a condição feminina dos lugares por onde ela passou como também sobre a vida social e política desses espaços.

Ela narrou o cotidiano das mulheres, dos escravos e senhores no Peru, país em que passa uma temporada junto aos familiares por parte de pai. Ela desembarca em uma nação libertada da Espanha há dez anos, porém, com uma conservação da estrutura feudal, com instabilidade política e as lutas pelo poder. As intrigas, revoltas militares, dissoluções de convenções constitucionais em proveito de certas classes, faziam parte do cotidiano dos peruanos (AMARANTE, 2010).

Havia no país a oposição entre dois grupos étnicos: os crioulos, donos de grandes plantações, elitizada, descendentes diretos dos conquistadores espanhóis, da qual a família de Flora fazia parte, e os negros, escravizados ou alforriados, que trabalhavam nessas plantações. Já os índios, por sua vez, eram poucos na parte costeira, embora bem representados em Arequipa, cidade dos Tristans, de acordo com a própria Flora. Cada olhar de Flora sobre tais grupos, embora ela tenha se aproximado mais de seu grupo de origem, auxilia na construção das imagens de Flora sobre diferentes opressões femininas, de acordo com as variações étnicas dentro de um sistema escravocrata.

Desde quando desembarcou, Flora observa e escreve sobre as mulheres em sua missão. Quando Flora considera o casamento é o único inferno que reconhece (AMARANTE, 2010) em sua jornada, é pela observação de uma submissão feminina sem fronteiras: “Aqui, pensei, as mulheres são, pois, pelo casamento, tão infelizes quanto na

França; também encontram, nesse elo, a opressão, e a inteligência com que Deus as dotou permanece inerte e estéril” (TRISTAN, 2000: 222 apud AMARANTE, 2010).

No Peru, observa o egoísmo da tia, e é implacável com ela, por ela oferecer aos pobres apenas boas palavras, que não aliviavam a miséria em que viviam, mesmo tendo imensa fortuna. Flora também observou a vida monástica em Arequipa: ela conhece dois conventos da ordem das carmelitas, onde percebe uma "aristocracia das riquezas", tão comum na sociedade peruana, ou seja, mais uma síntese de uma sociedade hierarquizada.

Na viagem, conhece a prima Manuela de Florez de Althaus, diferente de outros parentes pela cultura, generosidade e sensibilidade extraordinárias: falava e lia francês e não era superficial. Flora conhece, então, uma mulher feliz no casamento. Dentre outras mulheres retratadas por Flora, uma se destacada por estar atrelada à história do Peru: Pencha de Gamarra, e é notável a ela que, em um país onde poucas mulheres marcaram presença política, o destino da presidente pareceu fora do comum aos olhos de Flora, pois, desde 1823, Sr. Gamarra, presidente da República, governava sob as ordens de sua mulher, Senhora Pencha, que para a escritora era uma mulher forte, fora do comum e carismática.

Sobre os índios, Flora se refere a eles com respeito, descrevendo-os como humildes e silenciosos, suaves, sensíveis e extremamente respeitosos da natureza e da fauna. Porém, com seu olhar feminista, admira as ravanas, índias desagregadas que acompanhavam soldados, admirando-lhes a liberdade, apesar da miséria em que viviam. Porém, ao visitar as escravas nos engenhos de açúcar, fica chocada com a crueldade com que vê duas mulheres trancadas no calabouço por terem deixado suas crianças morrerem de fome. Em Lima, admira os costumes, trajes como também o caráter independente das mulheres (AMARANTE, 2010).

Apesar do olhar de uma europeia, os textos de Flora, de acordo com Amarante (2010), “constituem um testemunho fiel e corajoso do que foram dez meses passados num país marcado pelo despotismo e o fanatismo, pela miséria, corrupção e a hipocrisia que incidiam diretamente sobre a vida das mulheres”.

Tudo isso ajudou a autora, ao voltar para a França republicana, a entrar na luta social, pois, divulgou partes de seu diário através de artigos sobre a condição feminina no Peru, além de publicar duas petições: "Petição para o restabelecimento do divórcio" e "Petição para a abolição da pena de morte", listando injustiças, segundo Amarante (2010), incluindo a discriminação jurídica da mulher, algo que a fez sofrer consequências por boa parte de sua vida, dada a dificuldade de se divorciar e se livrar de um marido violento.

Já se passaram 179 anos desde sua morte, e o tema consentimento ainda é de amplo debate na sociedade democrática contemporânea. Flora questionou em que condições o 'sim" de uma mulher é dito, se realmente ela teria condições de dizer o "não", algo correlacionado, por exemplo, com o fato de ter se casado tão nova e sem direito à escolha.

Perseguida, pária, quase morta pelo marido. Um quadro desfavorável, mas ela resistiu como uma flor que brota no asfalto. Desenvolveu o pensamento feminino inovador, de vanguarda, questionador de bases sociais injustas e opressoras.

A professora de Sociologia, Milka Rezende pontua: "...são estruturais, históricas, político-institucionais e culturais. O papel da mulher foi por muito tempo limitado ao ambiente doméstico, que, por sua vez, era uma propriedade de domínio particular que não estava sujeita à mesma legislação dos ambientes públicos”.

Segundo a autora, a mulher era vista como uma propriedade particular, negado seu direito à vontade própria e sem direito à cidadania forjada nos espaços públicos, e, portanto, o sufrágio feminino e os direitos civis para mulheres são conquistas recentes em muitos países e ainda não completamente efetivadas em nenhum lugar do mundo.

Em razão desse panorama, a centelha que Flora acendeu no mundo, e iluminou vários caminhos para nós mulheres é extraordinariamente universal e acolhe os anseios de mulheres de todo o planeta.

Caminhando para o final desse breve relato sobre a autora, vale citar um excerto, na verdade o início da primeira nota de orelha do livro “Flora Tristán: Uma Mujer Sola Contra el Mundo SANCHEZ, 1992):

“Para el mundo ocidental Flora Tristán (1803-1844) es essa precusora de las organizaciones obreras de la emancipacióm de la mujer y de muchas causas justas.”

Traduzindo: “Para o mundo ocidental, Flora Tristán (1803-1844) é uma precusora das organizações operárias pela emancipação da mulher e de muitas causas justas.” E chama atenção que Sanchez (1992) fala de Flora com o verbo no tempo presente, ou seja, seu espírito e seu legado permanecem para o mundo.

Ademais, ela deve sempre ser lembrada como uma mulher de causas as quais até o momento presente reverberam em debates sobre igualdade e oportunidade para mulheres: em um momento em que as novas gerações lutam pela ampliação do lugar da mulher no mundo e por seus direitos mais fundamentais, ela é uma inspiração para a resistência contra o patriarcado, deixando um legado de obras fundamentalmente

históricas e também sua própria biografia para que o despertar das mulheres possa ser potencializado.

Referências Bibliográficas

AMARANTE, Maria Inês. O olhar de Flora Tristán sobre a América Latina: Deslocamentos, descobertas e leituras da condição feminina. Revista Fazendo Gênero (9): Diásporas, Diversidades, Deslocamentos. Santa Catarina: UFSC, 2010.

REZENDE, Milka de Oliveira. Violência contra a Mulher. Disponível em: <https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/violencia-contra-a-mulher.htm>. Acesso em: 29 jun. 2023.

SANCHEZ, Luis Alberto. Flora Tristán: Uma Mujer Sola Contra el Mundo. Caracas: Fundacion Biblioteca Ayacucho, 1992. VENTURA, Dalia. Flora Tristán: A Vida Extraordinária da Sindicalista Feminista que Inspirou até Karl Marx. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-63614378. Acesso em: 15 jun. 2023.


Lançamento do Livro Juiz de Fora ao Luar - em Constantino Hotel

    

Na escala do amor, a mulher está alguns degraus acima do homem. No dia em que o amor dominar a violência, a mulher será a rainha do mundo.” Flora Tristán
Lançamento 5° edição da coletânea Juiz de Fora ao Luar.


Gratidão a Gryphon Edições

terça-feira, 8 de agosto de 2023

Una mujer sola contra el mundo: Um pouco sobre Flora Tristán

                          Una  mujer sola contra el mundo: Um pouco sobre Flora Tristán

Neuza de Oliveira Marsicano

Considerações Inicial

Há uma tendência contemporânea do resgate da memória de Flora Tristán, que deixou um legado imenso de ativismo social e bases reflexivas filosóficas para um mundo mais fraterno: não apenas obras, como por exemplo, o romance escrito pelo Prêmio Nobel de Literatura Mario Vargas Llosa:  O Paraíso na Outra Esquina; "Flora Tristán, Una Filósofa Social" de Conxa Llinas Carmona; a obra de Brigitte Krülic sobre Flora; como também em artigos na França e no Peru, além da tendência atual de seu nome estar em ruas, organizações e escolas de ajuda feminina mundo afora.

Quem foi Flora?

Após um período de pesquisas, leituras e reflexões, parecem inesgotáveis os debates sobre a autora, que, antes de tudo, um ser que carregou a bandeira da esperança. Nascida na França, em 7 de abril de 1803, seu pai era militar aristocrata peruano e sua mãe nascida na França, refugiada em Bilbao na época da Revolução Francesa.

Flora cresceu em um lar em Paris frequentado por personalidades influentes e intelectuais. Mas, como nem tudo são flores, apesar de seus pais terem se casado diante de um padre na Espanha, o procedimento não foi considerado válido para as autoridades e leis francesas, uma vez em que não haviam se casado no civil.

Sendo assim, ela não foi reconhecida como herdeira legal de seu pai, embora seu irmão fosse vice-rei do Peru. Daí uma sentença que poderia ser: uma mulher bastarda, depois, órfã, pobre...como teria educação? Mas o que superaria tudo era sua força interior: Flora era autodidata.

Casou-se aos 17 anos com seu patrão, um homem violento com o qual viveu durante 4 anos, e a deixou com dois filhos para criar e um no ventre. Essa adversidade, naquele período, fez com que fosse vista por sua mãe como uma prostituta, por ser uma mulher, e, sem rede de apoio familiar, precisou trabalhar muito para criar seus filhos. A caçula, Alina, veio a ser a mãe do artista francês Paul Gaugin.

A obra de Flora Tristán

Após vários trabalhos, Flora conseguiu um emprego com uma família inglesa com quem viajou pela Europa, visitando o Reino Unido pela primeira vez. Ao voltar para a França em 1839, logo em seguida, publica "Passeios em Londres", uma obra em que denunciou as desigualdades que presenciara, denunciando os aristocratas e o sistema capitalista por essa injustiça. Esse trabalho foi pedra fundamental do incipiente movimento socialista, porém, a sua bibliografia talvez não ficasse tão conhecida se não fosse uma viagem feita em 1833 ao Peru, cujo resultado mais relevante foi sua obra emblemática: “Peregrinações de Uma Pária”, de 1838. O motivo da viagem, de acordo com a própria Flora era: "ir para o Peru e refugiar-me no seio da minha família paterna, esperando encontrar lá uma posição que me fizesse voltar a entrar na sociedade".

Com seu espírito livre, Flora atravessou o oceano sozinha, acompanhada por 18 homens, ainda que fosse incomum e perigoso uma mulher viajar desacompanhada naquela época, sendo recebida na casa majestosa da família e desfrutando de muito conforto nos 8 meses em que esteve no Peru. Apesar disso, seu tio deixou claro que ainda a considerava uma bastarda e que ela não teria direito a nenhum bem da família.

É interessante notar que ela havia partido da França como uma lutadora e rebelde que sonhava em recuperar seu lugar perdido na aristocracia, porém, retornou ao país em 1834 já como uma revolucionária determinada a conquistar com a força das palavras um lugar justo para todos.

A visão de Flora sobre mulheres independentes era ambiciosa, e isso ficou claro já em seu primeiro livro, "Da Necessidade de Acolher Mulheres Estrangeiras", de 1835, que, de acordo com Krülic, nele, "ela imagina maneiras de ajudar as mulheres a viajar".

Deve-se salientar que Flora lutou por 14 anos pelo seu divórcio, e esse desafio inspirou a publicação de "Petição para a Reintegração do Divórcio", onde ela detalha a luta por essa causa que encarou na vida pessoal, bem como pela abolição da pena de morte.

Entretanto, "Peregrinações de uma Pária" foi o texto que lhe abriu as portas em Paris. Porém, em Arequipa, a obra foi rechaçada com queima pública do livro, pois suas descrições do Peru em meados do século 19 ofenderam seus anfitriões no país. Anos depois, a obra foi reavaliada pelos historiadores peruanos e, nas primeiras décadas do século 20, foi acolhida como literatura peruana.

Enquanto ficava famosa, seu ex-marido, Chazal perseguiu-a nas ruas e a espancou. Além de ter tentado tomar a custódia dos filhos na Justiça. Alina precisou ficar escondida após ser vítima de um sequestro pelo próprio pai. Após Chazal ferir Flora gravemente com um tiro, é que ele foi preso. Enfim Flora e Alina estavam livres.

Alguns anos depois, Flora abordaria a questão do consentimento amoroso e da liberdade de movimento das mulheres no espaço público, algo arrojado para a época, assim como todas as suas ideias feministas e revolucionárias.

É de suma importância destacar que a escrita de Flora era concisa e concreta por uma razão prática: pelo fato de os trabalhadores terem uma jornada de trabalho muito longa, muitos não sabiam ler e precisavam ser abordados em uma linguagem simples que os incitasse à ação. Essa forma de pensar a estrutura textual foi inovadora para a época, e a diferenciou dos socialistas de sua época, incluindo Karl Marx, que se inspirou nela, mas nunca a citou. 

A última viagem

Ela se autodeclarou "apóstola do Sindicato dos Trabalhadores", viajou pela França em 1844 com suas ideias libertárias e foi perseguida pela polícia da época. Esse fervor foi imensamente apreciado. Seis meses depois, morreu, em Bordeaux, incapaz de terminar seu tour pela França.

Seu túmulo resume muito bem o Zeitgeist de Flora Tristán, tão avançado e disruptivo: as pessoas por quem havia lutado gravaram: "Em memória da senhora Flora Tristán, autora de 'A União Trabalhadora', os trabalhadores gratos. Liberdade, Igualdade, Fraternidade, Solidariedade".

Como Flora Tristán via a América Latina 

Falar de Flora é entender a fusão de uma vida pessoal de uma mulher em uma época de extrema opressão feminina, adicionando sua condição deexcluída: pela família, pelas condições financeiras e pela sociedade patriarcal. Apesar de um panorama desfavorável, ela resistiu e trouxe ideias inovadoras com seu olhar atendo e à frente de seu tempo, sempre driblando as adversidades em uma trajetória em que rumava a outros países por diversos motivos, mas sempre com algum fruto de ideias a serem disseminadas através de seus livros.

Em sua viagem da França, país em que morava, até a América Latina, onde sua família paterna vivia, não se sabendo claramente se tratar de uma busca de uma condição financeira menos atribulada ou se era uma busca de legitimidade mediante sua condição de bastarda, pois, o casamento de seus pais não foi reconhecido civilmente.

Fato é que, ao viajar, empunhava um diário, já se revelando escritora e anotando suas impressões sobre a América Latina. Esse recordatório de vida de Flora trouxe muitas revelações, segundo Amarante (2010), sobre a condição feminina dos lugares por onde ela passou como também sobre a vida social e política desses espaços.

Ela narrou o cotidiano das mulheres, dos escravos e senhores no Peru, país em que passa uma temporada junto aos familiares por parte de pai. Ela desembarca em uma nação libertada da Espanha há dez anos, porém, com uma conservação da estrutura feudal, com instabilidade política e as lutas pelo poder. As intrigas, revoltas militares, dissoluções de convenções constitucionais em proveito de certas classes, faziam parte do cotidiano dos peruanos (AMARANTE, 2010).

Havia no país a oposição entre dois grupos étnicos: os crioulos, donos de grandes plantações, elitizada, descendentes diretos dos conquistadores espanhóis, da qual a família de Flora fazia parte, e os negros, escravizados ou alforriados, que trabalhavam nessas plantações. Já os índios, por sua vez, eram poucos na parte costeira, embora bem representados em Arequipa, cidade dos Tristans, de acordo com a própria Flora. Cada olhar de Flora sobre tais grupos, embora ela tenha se aproximado mais de seu grupo de origem, auxilia na construção das imagens de Flora sobre diferentes opressões femininas, de acordo com as variações étnicas dentro de um sistema escravocrata.

Desde quando desembarcou, Flora observa e escrevia sobre as mulheres em sua missão. Quando Flora considera que o casamento é o único inferno que reconhece (AMARANTE, 2010) em sua jornada, é pela observação de uma submissão feminina sem fronteiras: “Aqui, pensei, as mulheres são, pois, pelo casamento, tão infelizes quanto na França; também encontram, nesse elo, a opressão, e a inteligência com que Deus as dotou permanece inerte e estéril” (TRISTAN, 2000: 222 apud AMARANTE, 2010).

            Dentre outras mulheres retratadas por Flora, uma se destaca por estar atrelada à história do Peru: Pencha de Gamarra, e é notável a ela que, em um país onde poucas mulheres marcaram presença política, o destino da presidente pareceu fora do comum aos olhos de Flora, pois, desde 1823, Sr. Gamarra, presidente da República, governava sob as ordens de sua mulher, Senhora Pencha, que para a escritora era uma mulher forte, fora do comum e carismática.

Sobre os índios, Flora se refere a eles com respeito, descrevendo-os como humildes e silenciosos, suaves, sensíveis e extremamente respeitosos da natureza e da fauna. Porém, ao visitar as escravas nos engenhos de açúcar, fica chocada com a crueldade com que vê duas mulheres trancadas na cadeia por terem deixado suas crianças morrerem de fome. Em Lima, admira os costumes, trajes como também o caráter independente das mulheres (AMARANTE, 2010).

Apesar do olhar de uma europeia, os textos de Flora, de acordo com Amarante (2010), “constituem um testemunho fiel e corajoso do que foram dez meses passados num país marcado pelo despotismo e o fanatismo, pela miséria, corrupção e a hipocrisia que incidiam diretamente sobre a vida das mulheres”.

Tudo isso ajudou a autora, ao voltar para a França republicana, a entrar na luta social, pois, divulgou partes de seu diário através de artigos sobre a condição feminina no Peru, além de publicar duas petições: "Petição para o restabelecimento do divórcio" e "Petição para a abolição da pena de morte", listando injustiças, segundo Amarante (2010), incluindo a discriminação jurídica da mulher, algo que a fez sofrer consequências por boa parte de sua vida, dada a dificuldade de se divorciar e se livrar de um marido violento.

Já se passaram 179 anos desde sua morte, e o tema consentimento ainda é de amplo debate na sociedade democrática contemporânea. Flora questionou em que condições o 'sim" de uma mulher é dito, se realmente ela teria condições de dizer o "não", algo correlacionado, por exemplo, com o fato de ter se casado tão nova e sem direito à escolha.

Perseguida, quase morta pelo marido. Um quadro desfavorável, mas ela resistiu como uma flor que brota no asfalto. Desenvolveu o pensamento feminino inovador, de vanguarda, questionador de bases sociais injustas e opressoras.

Caminhando para o final desse breve relato sobre a autora, vale citar um trecho, na verdade o início da primeira nota de orelha do livro “Flora Tristán: Uma Mujer Sola Contra el Mundo SANCHEZ, 1992):

“Para el mundo ocidental Flora Tristán (1803-1844) es essa precusora de las organizaciones obreras de la emancipacióm de la mujer y de muchas causas justas.”

Traduzindo: “Para o mundo ocidental, Flora Tristán (1803-1844) é uma precursora das organizações operárias pela emancipação da mulher e de muitas causas justas.” E chama atenção que Sanchez (1992) fala de Flora com o verbo no tempo presente, ou seja, seu espírito e seu legado permanecem para o mundo.

Ademais, ela deve sempre ser lembrada como uma mulher de causas as quais até o momento presente reverberam em debates sobre igualdade e oportunidade para mulheres: em um momento em que as novas gerações lutam pela ampliação do lugar da mulher no mundo e por seus direitos mais fundamentais, ela é uma inspiração para a resistência contra o patriarcado, deixando um legado de obras fundamentalmente históricas e também sua própria biografia para que o despertar das mulheres possa ser potencializado. A centelha que Flora acendeu no mundo, e iluminou vários caminhos para nós mulheres é extraordinariamente universal e acolhe os anseios de mulheres de todo o planeta.

Referências Bibliográficas

AMARANTE, Maria Inês. O olhar de Flora Tristán sobre a América Latina: Deslocamentos, descobertas e leituras da condição feminina. Revista Fazendo Gênero (9): Diásporas, Diversidades, Deslocamentos. Santa Catarina: UFSC, 2010.

SANCHEZ, Luis Alberto. Flora Tristán: Uma Mujer Sola Contra el Mundo. Caracas: Fundacion Biblioteca Ayacucho, 1992.

TRISTÁN, Flora. Peregrinações de uma Pária. Santa Cruz do Sul. Editora Mulheres e EDUNISC, 2000.

 VENTURA, Dalia. Flora Tristán: A Vida Extraordinária da Sindicalista Feminista que Inspirou até Karl Marx. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-63614378. Acesso em: 15 jun. 2023.

 

 


sexta-feira, 31 de março de 2023

Força coletiva, fonte inspiradora: mulheres em comunhão e na resistência diária na vida


Flor-mulher resiste

Linda bela e forte

Firme nas raízes

Exuberante na beleza e na força

Eis o jardim da sonoridade

Unidas e vencedoras no pódio da vida!

Neuza de Oliveira Marsicano

 Admiráveis são as histórias de tantas mulheres que se impuseram em uma sociedade patriarcal, gerando um legado de resistência e libertação para si mesmas e para as futuras gerações. Notáveis são a força com que acreditaram nos próprios sonhos e realizaram feitos impensáveis mediante a circunstâncias desfavoráveis, fazendo o melhor com os recursos disponíveis. 

            Quero falar sobre esses recursos, são eles a inteligência, a sagacidade, a versatilidade, a resistência e a força coletiva das mulheres, sendo uma sinergia capaz de inspirar as garotinhas desde a mais tenra idade, vendo suas mães e avós, apesar de tantas sobrecargas da vida cotidiana e do lar, terem buscado formação acadêmica e profissional, mercado de trabalho, sem abrir mão de realizações pessoais, esportivas, culturais e familiares.

            Não é fácil se equilibrar em multiplicidade. Porém, essa mesma força coletiva forma conexões de irmandade, com amizade, afeto e mãos estendidas, eis a sonoridade. Não somos rivais, somos complementares, somos a dádiva da sensibilidade, da fortaleza, da maternidade e da liberdade de sermos o que quisermos.

            Admiro como a mulher contemporânea, após muita persistência, tem priorizado o autocuidado e a liberdade emocional, buscando uma melhor versão de si mesma, ainda que, frequentemente, exaustas, buscam a renovação dessa energia. E aí entra a atividade física.

Nesse contexto, enquadro-me, sou uma mulher que descobriu uma nova versão na atividade física diária para a prática da corrida rústica, esporte que me trouxe experiências fantásticas, além de bem estar, saúde, muitas amizades e prevenção de doenças. É uma qualidade de vida inenarrável! Não abro mão!

            Destaco que o esporte é um empoderamento para a mulher, pois, várias modalidades não eram acessíveis a nós: paulatinamente, persistentemente, resistentemente, fomos ocupando os espaços nesse âmbito, apesar dos preconceitos e falta de incentivo.

            Liberdade e equilíbrio associados a escolhas sábias trazem longevidade, saúde física e mental a todo ser humano, mas a mulher precisa se lembrar do poder do “NÃO”, pois, a estruturação social ainda precisa evoluir muito para que haja plena responsabilidade compartilhada de homens e mulheres com igualdade de oportunidades e de valorização. O poder do não pode gerar um tempo extra para o autocuidado, haja vista que estamos sempre cuidando de tudo e todos ao nosso redor. E aí é necessário cuidar para que a premissa do “você faz melhor que todos” determinada tarefa em casa ou no trabalho faça com que você se transforme refém da incapacidade de dizer não quando todo ser humano pode e deve desenvolver múltiplas habilidades, independentemente do gênero ou da idade. E isso serve para o NÃO e para o SIM. Ou seja, se os outro podem, nós também podemos. É insistir, resistir. E, no meu caso, é levantar para correr, ainda que o tempo e o cansaço não colaborem, ou as demais preocupações me tomem a mente.

            A corrida que pratico também é a metáfora da vida, corrermos com um objetivo, uma meta, a busca de uma linha de chegada, e com vitória, com pódio. Mas na pista da vida, há barreiras, e para nós, há barreiras a mais para serem vencidas. Nessa trajetória, necessário ter fibra: penso das mulheres que resistem e estão em movimento na vida, rumo a suas vitórias, com base em suas escolhas, vencendo o machismo, a violência, a falta de oportunidades, a falta de tempo e a precariedade de tanta coisa, com suas dores e amores, intensa, gigante, preciosa e vitoriosa. Aprendeu a olhar para si mesma!

Que o nosso dia seja repleto de risos, de vitórias…

E que não nos falte esperança e sabedoria para dias melhores e com plenitude!

 

 

 

 

 

 


 

sábado, 25 de março de 2023

História da Capela Nossa Senhora da Glória no Bairro Floresta


 Com o declínio das lavouras e com a morte do proprietário, o filho herdeiro, Theodorico de Assis, investiu na Fábrica de tecidos São João Evangelista, inaugurada em 1922

Em 1924 a fábrica já estava em franca expansão

E em 1938, iniciou a construção da vila operária, originando o Bairro Floresta

De acordo com entrevistas realizadas em 2013, um dos moradores mais antigos do Bairro, nos revelou que o esboço da capela foi realizado pelo próprio Theodrico Assis, em seguida realizado por técnicos e engenheiros na década de 1950