domingo, 27 de março de 2022

Gravando PODCAST: Desafios da Educação Pós Pandemia

Epílogo

A luta pela educação sempre foi uma luta por evolução, bases, democratização e acesso. Em toda História da Educação, desde a formação do país, o acesso ao conhecimento formal era restrito às elites. Porém, com muito empenho, pessoas engajadas na universalização do acesso à escolarização foram incansáveis. A educação é base da sociedade, e acompanha os anseios do homem, potencializando a socialização, as múltiplas inteligências e a organização da vida cotidiana abrindo um mundo de possibilidades e valores em nossas vidas, vocacionando, na medida do possível, cada indivíduo dentro de suas potencialidades. O maior pensador contemporâneo da educação foi Paulo Freire, e seu legado é estudado no mundo todo. Darcy Ribeiro também deixou sua marca revolucionária em um grande projeto educacional libertador e inovador. Pensadores educacionais do mundo todo influenciando positivamente a forma de enxergar a educação centrada nos sujeitos do processo ensino- aprendizagem, suas culturas, vivências e as melhores formas de se integrarem nas vivências escolares.

Apesar de tantos esforços, evolução didático-pedagógica, tecnológica e social, além do incontestável potencial da educação transformadora na vida humana, em nosso país, as mazelas têm um mesmo cerne: a falta de priorização nas verbas educacionais, a dificuldade da inclusão, do acesso à escola e do acesso às novas TICs (Tecnologias da Informação e Comunicação) e a precarização do ensino público.

E nos dois últimos anos, um capítulo difícil e desafiador também para a educação no país e no mundo: o mundo pandêmico e pós-pandêmico da Covid-19. A proposta é refletir sobre as nuances desse desafio e como houve empenho para que o melhor esteja sendo feito, apesar das dificuldades. Muitos obstáculos, novas ferramentas de trabalho e uma verdadeira necessidade de reinvenção profissional. E como fica a saúde mental em meio a tantas novas demandas?

Os novos desafios da educação

            No mundo pós-pandêmico, são vários desafios que se apresentam para os profissionais da educação: a evasão escolar, alunos sem acesso à internet que não acompanharam aulas online, pais e responsáveis que não conseguiram auxiliar os estudantes, estudantes atrasados em relação aos colegas.

O abismo que se criou entre estudantes que tinham acesso à internet, pais ou responsáveis alfabetizados, energia elétrica e até mesmo comida em casa e os alunos que não tinham tudo isso disponível ficou ainda mais evidente. As gestões escolares nunca tiveram tantos desafios ao mesmo tempo.Não apenas estudantes do ensino fundamental e médio foram afetados, mas estudantes de todos os níveis acadêmicos enfrentaram dificuldades durante esse período, adotando o modelo à distância às pressas, muitas vezes sem preparo algum. Discentes, professores e suas respectivas famílias foram pegas de surpresa com o trabalho e estudo remoto adentrando as casas e fazendo parte da rotina (também das despesas dos profissionais para manter o home office sem custeios e subsídios, na maioria das vezes).

Vale a pena refletir a respeito de: o que fazer diante desta situação?

1.    Mais espaço para a tecnologia:

 

O ambiente escolar, com o retorno das aulas presenciais, pode e deve ser aprimorado para atender aos anseios de um novo formato de estudos que pode se complementar com as aulas expositivas: as aulas com o apoio das tecnologias, haja vista a quantidade de estratégias que podem ser exploradas para aumentar as possibilidades de aprendizagem com novas dinâmicas, tecnológicas e centradas em maior autonomia do aluno.  Além disso, as novas gerações têm um maior letramento digital, e que também foi aumentado com as aulas on-line na pandemia.

Duas observações:

·         todos os professores de todas as disciplinas podem e devem lançar mão da tecnologia para avançar nas estratégias pedagógicas no mundo contemporâneo;

·         não há como conciliar a tecnologia com o cotidiano escolar se não há investimento em estrutura física, equipamentos de informática, redes, capacitação docente e manutenção das máquinas.

2.    Ensino Híbrido

O Ensino Híbrido é condizente com tudo o que foi vivenciado por docentes e alunos. Se por um lado, a sala de aula faz muita falta, o uso de laboratórios, da interação face a face, da escola como espaço de socialização, integração e identidade local, por outro lado, a possibilidade de se explorar Ambientes Virtuais de Aprendizagem, com uma plataforma complementar às aulas, com biblioteca virtual, videoteca, quizes, possibilidade de envio de determinadas tarefas e espaço para tirar dúvidas, aumenta as possibilidades de inovação e “conversa” muito bem com os jovens que se acostumaram com a tela e os teclados do computador.


3.    Novos planos de ensino

Sabemos que novos desafios trazem novas demandas, e uma delas relacionada à adesão das TICs no cotidiano escolar tangencia a preparação docente, que, por sua vez, além de precisar aprimorar o conhecimento das ferramentas de ensino tecnológico, também merece as melhores oportunidades de conhecer estratégias para trabalhar de forma segura, motivada e com sentido. Capacitações, momentos de trocas de experiências e feedbacks de alunos para a busca de soluções pontuais são muito bem-vindos.

 

4.    Novas formas de avaliação

Nesse aspecto, primeiramente, é importante conhecer o aluno em suas limitações de acesso e conhecimento básico em tecnologia para que se possa sanar problemas de pré-requisitos mínimos para que ele não seja prejudicado por não saber manusear tecnologia para estudos e pesquisa, como também se ele tem equipamento de informática e acesso em casa. Esse tipo de desigualdade precisa ser equalizado, com boa vontade, verba e empatia. Do contrário, o abismo de desigualdade aumentará. Tablets e acesso gratuito à internet já são um bom ponto de partida para que todos os alunos possam fazer pesquisas e atividades on-line.

Uma vez que todos os alunos tenham acesso, em casa, e, no mínimo, na escola, será necessário constante aprimoramento dos docentes sobre como avaliar a distância, pois, há pontos de contato dessa avaliação com a avaliação presencial, mas, há muitas estratégias próprias e ferramentas que podem ser exploradas para uma avaliação mais completa e precisa pelos relatórios gerados pelas plataformas.


5.    Maior autonomia dos alunos

 

Com uma rede de pesquisa e construção do conhecimento de forma coletiva, muitas fontes e abordagens sobre um mesmo assunto no universo das redes, o docente deixa de ser o detentor do conhecimento, e passa a ser um catalizador de aprendizagem e estratégias para que os alunos aprendam novas formas de aprender. Essa autonomia sendo fortalecida, passa a ser uma dimensão de enriquecimento das aulas e das possibilidades de os alunos aprenderem uns com os outros com maior facilidade, desde que as fontes sejam confiáveis e o conhecimento flua para consolidação das etapas dos conteúdos propostos e fortaleça as relações interpessoais.

 

6.    Capacitação dos Professores

 

Sobre a capacitação docente, além do preparo tecnológico, de treinamento sobre como organizar o conteúdo no ambiente virtual, como avaliar o aluno, é bom motivá-lo a conhecer como tirar o melhor da tecnologia em nome do conhecimento, com concisão e foco. Não é fácil, os professores foram sobrecarregados com as novas demandas do ensino remoto sem capacitação, sem tempo hábil e sem subsídios financeiros, em um primeiro momento. Entretanto, sabemos que as frentes para capacitação e apoio foram aumentando, em uma segunda fase, em que, passado o choque inicial, os atores envolvidos na educação, já ambientados, começaram a dominar e aprimorar, através dos programas específicos das secretarias de educação do poder público, suas habilidades para trabalhar no ensino remoto e no híbrido.

 

7.    Melhoria da rede física

 

Além da parte que envolve a modernização das escolas, de se ter ambientes de laboratório de informática para todas as disciplinas, de uma rede de internet robusta e bons computadores, é importante espaços de treinamento dos docentes, salas de webconferência para capacitações. Caso os alunos permaneçam mais tempo no ambiente escolar para atividades extraclasse, é necessário ter espaços dedicados a lanches e ampliação de refeitório. O mundo pós-pandêmico vê o sedentarismo ter aumentado em função dos confinamentos para que o vírus da Covid-19 não se espalhasse com tanta facilidade, e a escola deve promover maior espaço para que os alunos possam praticar atividades físicas mais vezes, também poderem fazer sua higiene pessoal em alguns dias da semana na escola. Armários individuais e mais pessoas trabalhando nesses espaços são bem-vindos.

 

8.    Saúde mental dos estudantes e professores

 

Pode parecer simples elencar as soluções, mas existe a realidade de que, se não é fácil manter o básico, preparar a escola para novos desafios então é um desafio gigante. A boa notícia é que o Fundeb tem essa verba prevista em lei, mas que não tem sido repassada da maneira esperada, além do não cumprimento em vários estados e municípios do piso salarial dos professores.

Apesar disso, não devemos esquecer do valor humano de cada um de nós, que um docente ou aluno é, acima de tudo, um ser humano, e, portanto, passível de dores físicas, mentais e espirituais. E a pandemia potencializou quadros de depressão e ansiedade, dentre outros, em alunos e professores. Sendo assim, uma ideia é a parceria das escolas com profissionais da área de saúde mental para atendimento individual e palestras. Precisamos humanizar as escolas cada vez mais em um mundo que desafia, a cada dia, a nossa compreensão, mas que também nos ensina a sermos fortes a cada desafio.

 

 

 

 

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