Apresento o Universo de Contos do Raine
De linguagem fluida e rítmica, em seu
ofício de artesão das palavras, mantendo a qualidade pictórica de seus contos e
nos brindar com as experiências das sensações de personagens anônimos no dia a
dia juizforano, Fernando Raine abre a janela da sua criatividade e competência
da escrita com o sabor do cotidiano que não passa despercebido. Pelo contrário,
é ele a moldura para um mosaico de personagens que poderiam ser eu ou você, em
espaços, ora coletivos, ora intimistas, em que o autor brinca de fotografar com
palavras cada perspectiva. Ele rompe o tempo-espaço ao eternizar lugares
paradoxalmente na efemeridade das experiências passageiras de cada indivíduo.
De maneira sutil, delicada, aborda o
individualismo, a solidão, a liquidez dos tempos de hoje. Não é apenas uma
leitura saborosa, mas uma reflexão sobre a latência de profundidade em uma
dinâmica de uma realidade de laços humanos superficiais. É o coletivo disperso,
conforme ele mesmo conclui: “onde cada
olhar é uma nota solitária em uma melodia urbana”. Uma leitura lúcida dos
tempos de hoje, em que silêncios se prolongam, mas pensamentos se aceleram,
sobrepõem, preenchem o espaço da alma com dúvidas e saudades de tempos vividos
ou imaginados.
Cheiros, cores e sensações criam um
fundo em que os sentidos se fundem para que o tempo seja sentido com mais
intensidade. E a ambivalência do passado/presente, encontro/despedida,
lembrança/esquecimento, sentimentos/indiferença, pulsação/letargia,
silêncio/som, luz/sombra e doçura/amargor condensam uma atmosfera em que urge o
que estamos sempre adiando: saborear a vida enquanto o relógio anda.
Mas há esperança: na metáfora da
natureza a sabedoria de fluir em movimento, direção e superação de obstáculos,
de constância; e nos espaços coletivos com manifestação de afetos e de
preservação de memórias. Ainda há amor para eternizar e tornar profunda nossa
experiência humana!
Obrigada, Fernando, por registros tão
sensíveis de nossa cidade e nossa gente em uma combinação notável de
existencialismo, universalismo sem abrir mão da poética realidade que nos
cerca!
Neuza de Oliveira Marsicano
(Escritora, professora,Membro da AJL e
atleta)


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