Epílogo
A
luta pela educação sempre foi uma luta por evolução, bases, democratização e
acesso. Em toda História da Educação, desde a formação do país, o acesso ao
conhecimento formal era restrito às elites. Porém, com muito empenho, pessoas
engajadas na universalização do acesso à escolarização foram incansáveis. A
educação é base da sociedade, e acompanha os anseios do homem, potencializando
a socialização, as múltiplas inteligências e a organização da vida cotidiana
abrindo um mundo de possibilidades e valores em nossas vidas, vocacionando, na
medida do possível, cada indivíduo dentro de suas potencialidades. O maior
pensador contemporâneo da educação foi Paulo Freire, e seu legado é estudado no
mundo todo. Darcy Ribeiro também deixou sua marca revolucionária em um grande
projeto educacional libertador e inovador. Pensadores educacionais do mundo
todo influenciando positivamente a forma de enxergar a educação centrada nos
sujeitos do processo ensino- aprendizagem, suas culturas, vivências e as
melhores formas de se integrarem nas vivências escolares.
Apesar
de tantos esforços, evolução didático-pedagógica, tecnológica e social, além do
incontestável potencial da educação transformadora na vida humana, em nosso
país, as mazelas têm um mesmo cerne: a falta de priorização nas verbas
educacionais, a dificuldade da inclusão, do acesso à escola e do acesso às
novas TICs (Tecnologias da Informação e Comunicação) e a precarização do ensino
público.
E
nos dois últimos anos, um capítulo difícil e desafiador também para a educação
no país e no mundo: o mundo pandêmico e pós-pandêmico da Covid-19. A proposta é
refletir sobre as nuances desse desafio e como houve empenho para que o melhor
esteja sendo feito, apesar das dificuldades. Muitos obstáculos, novas
ferramentas de trabalho e uma verdadeira necessidade de reinvenção
profissional. E como fica a saúde mental em meio a tantas novas demandas?
Os
novos desafios da educação
No mundo pós-pandêmico, são vários
desafios que se apresentam para os profissionais da educação: a evasão escolar, alunos sem acesso à
internet que não acompanharam aulas online, pais e responsáveis que não
conseguiram auxiliar os estudantes, estudantes atrasados em relação aos colegas.
O abismo que se criou entre estudantes que tinham acesso à
internet, pais ou responsáveis alfabetizados, energia elétrica e até mesmo
comida em casa e os alunos que não tinham tudo isso disponível ficou ainda mais
evidente. As gestões escolares nunca tiveram tantos desafios ao mesmo tempo.Não apenas estudantes do ensino fundamental e médio
foram afetados, mas estudantes de todos os níveis acadêmicos enfrentaram
dificuldades durante esse período, adotando o modelo à distância às pressas,
muitas vezes sem preparo algum. Discentes, professores e suas respectivas
famílias foram pegas de surpresa com o trabalho e estudo remoto adentrando as
casas e fazendo parte da rotina (também das despesas dos profissionais para
manter o home office sem custeios e subsídios, na maioria das vezes).
Vale a pena refletir a respeito de: o que fazer diante desta
situação?
1. Mais espaço para a tecnologia:
O ambiente escolar, com o retorno das aulas presenciais, pode e deve ser
aprimorado para atender aos anseios de um novo formato de estudos que pode se
complementar com as aulas expositivas: as aulas com o apoio das tecnologias,
haja vista a quantidade de estratégias que podem ser exploradas para aumentar
as possibilidades de aprendizagem com novas dinâmicas, tecnológicas e centradas
em maior autonomia do aluno. Além disso,
as novas gerações têm um maior letramento digital, e que também foi aumentado
com as aulas on-line na pandemia.
Duas observações:
·
todos os professores de todas as disciplinas podem e devem lançar mão da
tecnologia para avançar nas estratégias pedagógicas no mundo contemporâneo;
·
não há como conciliar a tecnologia com o cotidiano escolar se não há
investimento em estrutura física, equipamentos de informática, redes,
capacitação docente e manutenção das máquinas.
2. Ensino Híbrido
O Ensino Híbrido é condizente com tudo o que foi vivenciado por docentes
e alunos. Se por um lado, a sala de aula faz muita falta, o uso de
laboratórios, da interação face a face, da escola como espaço de socialização,
integração e identidade local, por outro lado, a possibilidade de se explorar
Ambientes Virtuais de Aprendizagem, com uma plataforma complementar às aulas,
com biblioteca virtual, videoteca, quizes, possibilidade de envio de
determinadas tarefas e espaço para tirar dúvidas, aumenta as possibilidades de
inovação e “conversa” muito bem com os jovens que se acostumaram com a tela e
os teclados do computador.
3. Novos planos de
ensino
Sabemos que novos desafios trazem novas demandas, e uma delas
relacionada à adesão das TICs no cotidiano escolar tangencia a preparação
docente, que, por sua vez, além de precisar aprimorar o conhecimento das
ferramentas de ensino tecnológico, também merece as melhores oportunidades de
conhecer estratégias para trabalhar de forma segura, motivada e com sentido.
Capacitações, momentos de trocas de experiências e feedbacks de alunos para a busca
de soluções pontuais são muito bem-vindos.
4. Novas formas de
avaliação
Nesse aspecto, primeiramente, é importante conhecer o aluno em suas
limitações de acesso e conhecimento básico em tecnologia para que se possa
sanar problemas de pré-requisitos mínimos para que ele não seja prejudicado por
não saber manusear tecnologia para estudos e pesquisa, como também se ele tem
equipamento de informática e acesso em casa. Esse tipo de desigualdade precisa
ser equalizado, com boa vontade, verba e empatia. Do contrário, o abismo de
desigualdade aumentará. Tablets e acesso gratuito à internet já são um bom
ponto de partida para que todos os alunos possam fazer pesquisas e atividades
on-line.
Uma vez que todos os alunos tenham acesso, em casa, e, no mínimo, na escola,
será necessário constante aprimoramento dos docentes sobre como avaliar a
distância, pois, há pontos de contato dessa avaliação com a avaliação
presencial, mas, há muitas estratégias próprias e ferramentas que podem ser
exploradas para uma avaliação mais completa e precisa pelos relatórios gerados
pelas plataformas.
5. Maior autonomia dos
alunos
Com uma rede de pesquisa e construção do conhecimento de forma coletiva,
muitas fontes e abordagens sobre um mesmo assunto no universo das redes, o
docente deixa de ser o detentor do conhecimento, e passa a ser um catalizador
de aprendizagem e estratégias para que os alunos aprendam novas formas de
aprender. Essa autonomia sendo fortalecida, passa a ser uma dimensão de
enriquecimento das aulas e das possibilidades de os alunos aprenderem uns com
os outros com maior facilidade, desde que as fontes sejam confiáveis e o
conhecimento flua para consolidação das etapas dos conteúdos propostos e
fortaleça as relações interpessoais.
6. Capacitação dos
Professores
Sobre a capacitação docente, além do preparo tecnológico, de treinamento
sobre como organizar o conteúdo no ambiente virtual, como avaliar o aluno, é
bom motivá-lo a conhecer como tirar o melhor da tecnologia em nome do
conhecimento, com concisão e foco. Não é fácil, os professores foram
sobrecarregados com as novas demandas do ensino remoto sem capacitação, sem
tempo hábil e sem subsídios financeiros, em um primeiro momento. Entretanto,
sabemos que as frentes para capacitação e apoio foram aumentando, em uma
segunda fase, em que, passado o choque inicial, os atores envolvidos na
educação, já ambientados, começaram a dominar e aprimorar, através dos
programas específicos das secretarias de educação do poder público, suas
habilidades para trabalhar no ensino remoto e no híbrido.
7. Melhoria da rede física
Além da parte que envolve a modernização das escolas, de se ter
ambientes de laboratório de informática para todas as disciplinas, de uma rede
de internet robusta e bons computadores, é importante espaços de treinamento
dos docentes, salas de webconferência para capacitações. Caso os alunos
permaneçam mais tempo no ambiente escolar para atividades extraclasse, é
necessário ter espaços dedicados a lanches e ampliação de refeitório. O mundo
pós-pandêmico vê o sedentarismo ter aumentado em função dos confinamentos para
que o vírus da Covid-19 não se espalhasse com tanta facilidade, e a escola deve
promover maior espaço para que os alunos possam praticar atividades físicas
mais vezes, também poderem fazer sua higiene pessoal em alguns dias da semana
na escola. Armários individuais e mais pessoas trabalhando nesses espaços são
bem-vindos.
8. Saúde mental dos
estudantes e professores
Pode parecer simples elencar as soluções, mas existe a realidade de que,
se não é fácil manter o básico, preparar a escola para novos desafios então é
um desafio gigante. A boa notícia é que o Fundeb tem essa verba prevista em
lei, mas que não tem sido repassada da maneira esperada, além do não
cumprimento em vários estados e municípios do piso salarial dos professores.
Apesar disso, não devemos esquecer do valor humano de cada um de nós,
que um docente ou aluno é, acima de tudo, um ser humano, e, portanto, passível
de dores físicas, mentais e espirituais. E a pandemia potencializou quadros de
depressão e ansiedade, dentre outros, em alunos e professores. Sendo assim, uma
ideia é a parceria das escolas com profissionais da área de saúde mental para
atendimento individual e palestras. Precisamos humanizar as escolas cada vez
mais em um mundo que desafia, a cada dia, a nossa compreensão, mas que também
nos ensina a sermos fortes a cada desafio.