terça-feira, 9 de novembro de 2021

Inhotim: a tríade da Arte– pessoas, sonhos e sentidos

Neuza de Oliveira Marsicano

  “Os espelhos são usados para ver o rosto; a arte para ver a alma.”

George Bernard Shaw

    Há várias maneiras de conhecer um lugar. Participar de congressos é uma delas. Essa foi a maneira que escolhi para conhecer o Instituto Inhotim; sim, um lugar de sonhos; e constitui-se em um dos maiores acervos de Arte Contemporânea e de Botânica, juntos num só espaço, um grande parque na cidade de Brumadinho, bem perto da Grande Belo Horizonte. 

             Ao receber  o convite para inscrever no Congresso Internacional de Educação, que fez  parte  da rica  programação  das comemorações dos 10 anos de Inhotim, foi a  possibilidade de conhecer lugar mágico. Fiz  logo minha inscrição. Essa viagem me surpreendeu de maneira especial, o que pretendo mostrar ao longo do texto.

             Fui imaginando como seria chegar naquele território recheado de contemporaneidade, diversidade e sinestesia. Por isso mesmo, pensei no lugar e três coisas vieram em mente: vanguarda dos sonhos, do diferente, do inédito, de tudo aquilo na arte que faz contemplar e refletir, sonhar, talvez com um mundo mais cheio de autenticidade, talvez sensível aos problemas da natureza humana, talvez mais empático, ou tudo isso ao mesmo tempo.

            A segunda coisa: território internacional, étnico, de diversidade, onde pessoas do mundo todo, com suas linguagens, vestimenta, interesse e contemplação reúnem-se num espaço único pelo propósito de interação com a arte e a natureza.

            E para compor a tríade de expectativa e realidade, esta muito bem atendida, emerge o diferencial sinestésico de Inhotim: já havia lido e visto descrições fabulosas sobre as inusitadas experiências sensoriais, seja pelo estímulo de som, de cores e de texturas, dentre outros.

            Chegando em meio a uma imensidão verde, notei várias garagens abertas onde se reparavam carros quebrados e me fixei também nas montanhas, com suas entranhas abertas entre a vegetação exuberante e desordenada. Ao cruzar, ao longo dos trilhos de trem de ferro, desativado, eis a chegada  no misterioso museu, que nega todas as regras daqueles convencionais, fui me encantado pela bela e misteriosa paisagem local.

            Abrindo e fechando um pequeno histórico do museu, idealizado pelo mecenas mineiro, o empresário Bernardo Paz, o espaço possui uma estrutura organizada para receber pessoas do mundo inteiro, e, embora haja a necessidade de compra de ingresso para visitá-lo, a exceção fica por conta da quarta-feira, eis o dia democrático...reconfortante. Unindo arte e natureza, o Inhotim foi aberto em 2006, e, segundo informações já recebidas no local, através de seus monitores, desde essa data, o museu recebeu milhões de pessoas, e conta também com lanchonetes, restaurantes, lojinha de souvenir e todo conforto para quem não deseja ou não tem a possibilidade de caminhar a pé ao longo de seus caminhos entre um setor e outro: é que existe a possibilidade de se alugar carrinhos, como aqueles de golfe.

            Com uma  estrutura fantástica iniciou a Abertura do Seminário com Conversa Inaugural, o tema interessante “Educação Humanizadora: Múltiplas Perspectivas”, proferida pelo professor José Pacheco, autor da Escola da Ponte em Portugal, sagrou-se como um momento de encanto. E assim, foram três dias com palestrantes do Brasil e de vários  países da Europa. Ponto de destaque foi o concerto de encerramento do Seminário com a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais. Simultâneo ao Seminário fomos guiados  para visitar os vários pavilhões espalhados pelo museu ,ambientados pela  bela  e  misteriosa paisagem local, e agora passo a narrar alguns momentos marcantes para mim.

            Entre as galerias, o que me surpreendeu mais foi a Forty Part Motet, criada pela artista canadense Janet Cardiff, uma instalação sonora, gravada pelo coro de Salisbury Cathedral, entoando o moteto Spem in Allium, do compositor inglês Tomas Tallis (1505-1585), uma belíssima composição polifônica sacra. É uma reprodução em quarenta canais, cada qual com sua caixa de som, e em pedestal, simulando uma formação espacial humana de um coral. Entrei para ficar um pouquinho...caminhei pelo salão, ouvindo caixa de som por caixa de som, ou melhor, uma experiência de várias categorias de  vozes, a diversidade de um coral completo. Quase não consegui sair...a beleza e a sensibilidade hipnotizante...

            Subindo um dos mais altos morros do lugar, mais um pavilhão que vale a pena ser registrado: O Som da Terra, o Sonic Pavilion, de acordo com reportagem (conf. Elle), consiste num dos trabalhos imperdíveis de Inhotim, levando cinco anos para ser concretizado. Obra do artista americano Doug Aitken, trata-se de um pavilhão oval, com uma cavidade de 200 m de profundidade, em que o ele colocou uma série de microfones. É uma espécie de amplificação do “som da terra”. Tive a experiência sensorial de deitar em volta da cavidade, de olhos fechados, ouvindo um som inédito, mais um som da natureza indescritível.

            Narcissus Garden é uma plataforma em que dois lagos artificiais geométricos em suspenso e interligados, da excêntrica artista japonesa, Yayoi Kusama, conhecida mundialmente pela obsessão pelo tema dos círculos, esferas, já tendo feito a vitrine mais bela de Louis Vuitton em Paris. De acordo com informações do próprio site do Instituto Inhotim, a instalação é composta por 500 esferas de aço inoxidável, que por sua vez, flutuam sobre o espelho d'água do Centro Educativo Burle Marx. Com os vento, pude perceber a movimentação das esferas, num baile de luz e de  variação de formações, que ora se unem, ora se afastam, refletindo toda a natureza em volta, além do próprio espectador. Encantador e incitador de reflexão!

            Não há como deixar de mencionar uma das maiores coleções de palmeiras do mundo, e algumas esculturas que se harmonizam com a natureza. Presença de totens, e outras esculturas espalhadas para que o espectador se surpreenda também com a arte fora das galerias e pavilhões. Experiência de encher os olhos, de encantar os ouvidos, refletir com fotografias cotidianas, entrar em salas monocromáticas ou em salas com projeções: uma ode à sinestesia.

            Deparando-me com os demais visitantes, contemplo a universalidade do encanto com a natureza e a arte, acreditando que ambas podem ser a chave de uma resgate do belo, do humano, do natural, do criativo e da reflexão.

            Deus criou a natureza e o homem, o sonho de um homem, Bernardo Paz, criou uma realidade que é Inhotim, uma realidade que reúne os melhores devaneios artísticos e sua natureza exuberante: obrigada, Inhotim, por existir e ser tão perto de mim, fisicamente e metafisicamente!

 Fontes citadas:

Revista Elle. Edição 280. Ano 24. Setembro de 2011.

 Site do Instituto Inhotim: <http://www.inhotim.org.br/inhotim/arte-contemporanea/obras/narcissus-garden/>. Acesso em: abr. 2017.

 

 

 

 

 

 

 


 

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